Estudo das Memórias de Pacientes Internados em Unidade de Terapia Intensiva

 

El Hajj, S.A; Lacerda, S.S; Caiuby, A.V.S;

 

 RESUMO

Introdução: Memória é a essência do saber, é a capacidade que temos de adquirir, formar, conservar e evocar informações. As memórias traumáticas dos pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são fenômenos heterogêneos, complexos e são armazenadas de formas distintas no cérebro diferentemente das memórias normais. Situações experimentadas de ameaça à integridade física e psíquica é relacionada à formação de experiências traumáticas e conseqüentes memórias. Essas memórias de UTI são classificadas em três categorias: memórias reais, de sentimentos e ilusórias.  Objetivo: revisar estudos das memórias dos pacientes internados em UTI. Método: revisão bibliográfica bases de dados eletrônica (PubMed e Medline) e consulta publicações impressas. Resultados: Selecionou-se vinte e oito artigos e sete livros de psiquiatria (últimos 12 anos).  A prevalência dos pacientes que recordam memórias estressantes de UTI variou de 30% a 85% e dos pacientes que não tiveram nenhuma memória da UTI variou de 23% a 65%. O tipo de memória descrita como fator de risco para o desenvolvimento de TEPT é a memória ilusória derivada de sonhos e deliriuns, sendo que os fatores de risco relacionados são: historia previa de ansiedade ou pânico; a presença de memórias ilusórias; presença de crenças e comportamentos depressivos que impossibilitam o enfrentamento da situação de ameaça; gênero feminino; pacientes jovens; e tempo de ventilação mecânica. Dentre as drogas relacionadas à formação de memórias ilusórias estão o propofol, opioides, lorazepam, epinefrina. Por outro lado, o cortisol é um fator de proteção no desenvolvimento de TEPT. Conclusão: A necessidade de estratégias e intervenções psicológicas são primordiais, durante a internação em UTI e após alta, para agir na prevenção e sofrimento desses pacientes.

Palavras-chave: memória traumática; memória delirante; cognitivo-comportamental; Unidade de terapia intensiva; psicologia.

  1. INTRODUÇÃO

Atualmente, estudos têm demonstrado as repercussões das memórias em pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quanto à reabilitação física, mental e qualidade de vida destes pacientes (Caiuby, Andreoli, & Andreoli, 2008). As memórias de eventos reais e as memórias ilusórias derivadas de eventos mentais (alucinações e sonhos) vividos em UTI são consideradas estressantes e traumáticas para os pacientes (Almeida, 2006). O curso emocional destas memórias é influenciado por fatores de risco demográficos (sexo e idade), medicamentosos (sedativos, analgésicos e hormônios estimulantes), bem como pela saúde mental do paciente anterior a internação (estados de ansiedade e depressão) (Caiuby et al., 2008).

A formação da memória traumática é um evento complexo, composto por processos neurológicos, cognitivos e afetivos, derivados não somente da característica do evento estressor, como também das pré-condições fisiológicas e psíquicas do indivíduo. Embora, os estudos das reações entre variáveis emocionais e a memória constitua-se em um tópico recente, atualmente existe uma significativa gama de evidências apontando para o conhecimento do funcionamento da memória e o papel da função cognitiva na etiologia da memória traumática e desenvolvimento de transtornos mentais (Pergher, Oliveira, & Stein, 2005).

Portanto, a proposta do presente estudo será analisar as vivências das memórias de pacientes sedados e internados em UTI, sendo fundamentado no estudo da formação da memória e na análise cognitivo-comportamental das reações psíquicas decorrentes das vivências.

  

Método

O presente estudo foi realizado através de uma busca em base de dados eletrônica (PubMed e Medline) nos últimos 12 anos (1997-2009). A estratégia de pesquisa incluiu as palavras-chaves: “Memory; Classification; Complications; History; Phenomenon; Psychopathology; Intensive Care Unit; Critical Care or Critical Illness or Delusional Memories; Psychology’’. Livros sobre o tema também foram consultados. Devido à variabilidade na qualidade metodológica de pesquisa em memórias de UTI, artigos foram selecionados para inclusão por uma avaliação da utilidade e validez dos estudos. Foram excluídos do estudo trabalhos relacionados a memórias de UTI infantil, adolescência, demência, problemas neurológicos e psicoses.

Resultados

 

Foram revisados 32 artigos, 2 foram excluídos por não tratarem de memórias de UTI. Os 28 artigos incluídos utilizaram os seguintes desenhos: 14 estudos de coorte prospectivo, 7 qualitativos, 4 ensaio clinico randomizados, 3 revisão de literatura e 2 estudo observacional. Foram selecionados 7 livros de psiquiatria os quais abordavam o tema em estudo.

 

Memória

Memória é o fundamento de todo o saber. É a capacidade mental de registrar, recuperar, manter e evocar as experiências vivenciadas e os fatos já ocorridos (Dalgalarrondo, 2008). A aptidão para memorizar refere-se intimamente com o nível de consciência, com a atenção e o interesse afetivo (Dalgalarrondo, 2008). A memorização depende do aprendizado e compreensão em relação ao mundo em que vivemos e como nos comunicamos uns com os outros através de símbolos expressões e sinais, dos quais a linguagem parece ser o exemplo mais eficaz. “Cada um de nós é quem é por que tem as suas próprias memórias” (Izquierdo, 2004).

O aprendizado e a memória são adaptações da circuitaria encefálica ao ambiente, que acontece ao longo da vida. O encéfalo possui inúmeros sistemas para desempenhar varias funções, dentre elas: sensações, motricidade, emoções, e cada sistema contem bilhões de neurônios com um grande número de interconexões. Aprendemos e recordamos varias coisas diferentes, e é importante ressaltar que essas coisas podem não ser processadas e retidas pela mesma maquinaria neural (Bear, Connors, & Paradiso, 2008). Não existe mecanismo celular ou estrutura encefálica que, sozinhos sejam responsáveis por todo o aprendizado. Contudo, a forma como uma determinada informação é armazenada pode mudar ao longo do tempo (Bear et al., 2008).

Segundo Izquierdo (2004), a formação das memórias é adquirida de certa forma quando estamos emocionalmente envolvidos. Cada estado emocional se acompanha de um emaranhado de fenômenos hormonais e neuro-humorias. Designam-se neuro-humorais os fatos ou processos que envolvem a liberação de substâncias moduladoras da atividade nervosa no cérebro, tais como: noradrenalina, dopamina, serotonina, acetilcolina ou a beta-endorfina. Estados emocionais diversos ou de ânimo juntam-se de variadas taxas de liberação destas substâncias neuromoduladoras, que aumentam ou diminuem a capacidade de resposta de varias áreas cerebrais, as quais as que formam ou evocam memórias. Dentre os hormônios periféricos, que também são secretados no cérebro e modulam a atividade destas áreas, os corticóides e a adrenalina são as de maior conhecimento (Izquierdo, 2004).

De acordo com Bear et. al., (2008), as memórias são obtidas sob atos de determinados tônus cerebral dopaminérgico, serotonérgico, noradrenérgico ou endorfínico, e de um tônus hormonal paralelo. Tanto os moduladores quanto os hormônios em geral facilitam a formação das memórias agindo sobre mecanismos específicos nas áreas do cérebro, de certa forma incorporando informações.  Quando falamos da evocação das memórias elas são melhor evocadas quando o tônus neuro-humoral e hormonal em vigor no momento de sua aquisição se repete. Desta forma, em momentos de ansiedade excessiva, onde se libera muita dopamina e noradrenalina cerebral, e também adrenalina e corticóides na periferia, não só teremos facilidade em gravar aquele momento como evocá-lo, podendo evocar outras experiências assustadoras que sejam parecidas àquela ocasião (Izquierdo, 2004).

Ao evocar uma recordação, não evocamos somente memórias de eventos estressantes ou aterrorizantes, evocamos também memórias prazerosas. Nas memórias ligadas ao prazer haverá um emaranhado de processos neuro-humorais e hormonais similares àqueles que experimentam em outras ocasiões da mesma índole (prelúdios do ato sexual ou um excelente jantar em uma ocasião especial) (Izquierdo, 2004). Em outras palavras, a maioria das memórias fica em um estado latente, só revivendo pelo que chamamos de determinadas conjunções neuro-humorais e hormonais especificas de cada situação, entre elas: o medo, susto, pavor, amor, sexo, jantar (ocasiões especiais). Essas memórias latentes estão guardadas, não esquecidas, elas estão esperando somente um estímulo parecido ao que viveram para surgirem (Izquierdo, 2002).

As memórias são constituídas por células nervosas (neurônios), são armazenadas em redes de neurônios e são evocadas pelas mesmas redes neuronais ou por outras. São estruturadas pelas emoções, pelo nível de consciência e pelos estados de ânimo. Os principais reguladores da aquisição, da formação e da evocação das memórias são as emoções e os estados de ânimo. Sabe-se que diferentes memórias são ativadas ao evocar uma determinada vivência, no presente estudo as memórias relacionadas ao processamento da aprendizagem, da informação, das emoções e estados de ânimo serão abordadas. Dentre elas, memória não-declarativa, memória declarativa, memória de curta duração e memória de longa duração.

Memórias não-declarativas são as referentes a hábitos e capacidades. Normalmente motoras, sensoriais, sensórios – motoras ou eventualmente lingüísticas (como aprender tocar piano, andar de bicicleta, aprender a nadar e soletrar) e derivadas do aprendizado emocional, bem como formas elementares de aprendizado reflexo, tais como habituação, sensibilização, condicionamento clássico e operante.

Habituação e sensibilização são exemplos de aprendizado não-associativo (o sujeito aprende sobre as propriedades de um único estímulo, sendo exposto a esse estímulo repetidas vezes). Habituação é a repetição que um estímulo leva à supressão gradual da reação de orientação, revela-nos algo sobre a organização da própria percepção (Izquierdo, 2002). Na habituação um sujeito aprende sobre as propriedades de um estímulo benigno ou sem importância. Sensibilização é quando um sujeito aprende sobre as propriedades de um estímulo nocivo ou ameaçador, é através dela que as pessoas e até mesmo aos animais aprendem a melhorar seus reflexos defensivos em preparação para retirada ou fuga (Squire et al., 2003).

Aprendizado associativo refere aos condicionamentos clássicos e operantes. Um sujeito aprende sobre a associação entre dois estímulos – condicionamento clássico – ou sobre a relação de um estímulo com o comportamento do indivíduo – condicionamento operante (Squire et al., 2003).

Memórias declarativas são as memórias ligadas aos fatos, eventos, músicas, faces e conhecimentos que são memorizados, ou seja, todo conhecimento que um sujeito foi adquirindo ao longo de uma vida de aprendizado, experiência, conhecimento que pode potencialmente ser declarado, trazido a mente de uma forma verbal ou como imagem mental (Izquierdo, 2002; Squire et al., 2003). Ela é sempre explicita e diz respeito, com mais freqüência, a eventos autobiográficos e conhecimentos gerais, ela está disponível para evocação consciente. São freqüentemente fáceis de formar e também fáceis de esquecer (Dalgalarrondo, 2008).

A memória declarativa é responsável pelo modo aos quais codificamos, armazenamos, evocamos e esquecemos determinadas informações, nos mostra como de fato ela é e como funciona. Codificação é converter informação em um código, é a forma pela qual o material que encontramos recebe atenção, é processado e preparado para ser armazenado na memória. Não há regiões especificas para o armazenamento das memórias, ela parece ser armazenada no mesmo conjunto distribuído de estruturas encefálicas que estão ligadas na percepção inicial e no processamento do que será lembrado. Evocar uma memória não é necessariamente a reativação de vários fragmentos distribuídos que constituem a lembrança, dependendo da dica ou do fragmento de lembrança que esteja disponível, pode ser que apenas alguns fragmentos sejam ativados (Izquierdo, 2002). Em outras palavras ter uma memória intensa armazenada não quer dizer que posteriormente evocará essa memória com precisão. O estado de ânimo e da mente também podem influenciar o armazenamento da memória e a quantidade de lembranças que podem ser evocadas (Squire et al., 2003).

O fenômeno chamado esquecimento é fisiológico e desenvolve um papel adaptativo (Squire et al., 2003). Em parte, o que é esquecido deve-se aos mecanismos que formam e evocam as memórias e as quais são saturáveis. Constantemente, novas memórias são formadas e, assim, as memórias preexistentes devem ser esquecidas para dar lugar a novas memórias (Izquierdo, 2004). O esquecimento é uma arte necessária da memória.

As memórias de curto prazo são aquelas facilmente esquecidas, que duram segundos a horas e que são vulneráveis as perturbações (Bear et al., 2008). Elas retêm informação temporariamente, até que seja esquecida ou transmitida para memória de longo prazo. Também dependem de seqüências concatenadas de processos moleculares, distintos dos processos da memória de longo prazo, nas mesmas áreas do cérebro. Ela desempenha um importante papel no processamento verbal, permite manter uma conversa ou leitura (Izquierdo, 2002; Squire et al., 2003; Izquierdo, 2004). Ela foi subdivida por psicólogos cognitivos em dois principais componentes: memória imediata e memória de trabalho.

Memória imediata é a memória que pode ser mantida de forma ativa na mente, iniciando no instante que a informação chega. Ela tem uma capacidade limitada (pode manter aproximadamente sete itens) e se o seu conteúdo não for recapitulado, geralmente dura menos que 30 segundos. A extensão da memória imediata é chamada de memória de trabalho. Um objeto ou um acontecimento inicialmente pode ser representado na memória imediata e mantido na memória de trabalho, e por fim, perdurar como memória de longo prazo (Squire et al., 2003).

Memória de trabalho é uma memória temporária de armazenamento da informação, de capacidade limitada, e necessita de repetição para ser armazenada, mesmo que por pouco tempo, exemplo: ouvir um número telefônico, reter na mente e em seguida discá-lo. Ela não forma arquivos duradouros, desaparecem em segundos ou no máximo minutos (Bear et. al., 2008).

É primordial destacar que a memória de curto prazo não se refere somente as memórias imediatas e de trabalho, ela também refere a componentes posteriores da memória, até o momento da intensificação da memória estável de longo prazo. Deste modo, a memória de curto prazo pode durar de minutos, horas ou mais, muito além do ponto em que a informação é armazenada ativamente na mente.

Memórias de longo prazo são aquelas que podem ser lembradas durante dias, meses ou anos após terem sido armazenados, ou seja, é a capacidade de evocar informações e acontecimentos ocorridos há muito tempo, podendo durar por toda a vida (Bear et al., 2008; Dalgalarrondo, 2008; Squire et al., 2003). Acredita-se que as memórias de longo prazo relacionam-se tanto com o hipocampo quanto a amplas e difusas áreas corticais, sobretudo frontais, incluindo todos os outros lobos cerebrais, sobretudo em áreas corticais de associação (Kroll et al., 1997 apud Dagalarrondo, 2008).

1.3 Memórias Traumáticas

 

Alguns estudiosos discutem amplamente a existência de diferentes tipos de memórias e atribui às diferenças processuais cognitivas e afetivas inúmeras características que as definem em etiologia e funcionamento. No processo de formação da memória traumática, a memória declarativa semântica e episódica (autobiográfica) são responsáveis pelo registro do trauma, na medida em que as memórias declarativas são investidas de altos níveis de emoções experienciadas durante os eventos estressores (Caminha, 2005; Pergher et al., 2005; Schreiner, 2005; Kristensen, Gauer, Giovenardi, Parente, & Kaszniak, 2005).

O conceito de trauma teve os primeiros registros nos estudos realizados por Sigmund Freud, os quais trataram das repercussões psicológicas negativas em indivíduos que participaram da Primeira Guerra Mundial. O termo trauma era até então utilizado para referir acidentes corporais, sendo aplicado a fenômenos psicológicos, trazendo ao conceito de traumatismo psicológico a noção de casualidade e tratamento (Caiuby, Andreoli, & Andreoli, 2009).

 O primeiro estudo científico sobre trauma tornou-se importante com a Guerra do Vietnã, principalmente pela psiquiatria norte-americana. É a primeira vez que a psiquiatria voltou seus olhares para preparação psicológica dos soldados. Entretanto, a prevenção de manifestações psicológicas não foi alcançada após o retorno dos soldados, mesmo nos que não apresentaram alterações psíquicas durante os combates (Mello & Fiks, 2006). Em 1960, as manifestações mundiais contra a Guerra do Vietnã foram essenciais para a contestação proposta pela contracultura dessa época.  O mundo estava reprimido pelo movimento de “paz e amor” e a preocupação constante com os efeitos psicológicos da violência cresceu o cerco contra o envolvimento dos países em conflitos armados (Mello et al., 2006).  Esse movimento provavelmente foi primordial para o surgimento do diagnóstico de TEPT no DSM-III que já apresentava aspectos do diagnóstico atual do TEPT: pensamento intrusivo provocando a reexperiência do trauma, conduta de evitação e sintomas de hiperestimulação (Mello et al., 2006).

Para a teoria cognitivo-comportamental as experiências traumáticas são armazenadas nas memórias cognitiva, emocional e motora e são responsáveis por um padrão de estimulação de estruturas corticais e subcorticais associativas, viabilizando diversos estímulos sensoriais presentes no evento. As alterações decorrentes do trauma são definidas como “tentativas de resposta adaptativa à nova ordem imposta por eventos que desestruturam gerenciadores cognitivo-comportamentais, os esquemas (conjunto de crenças, regras e pressupostos que regem nosso modo de ver e interpretar a nós mesmos e ao mundo). A repercussão é sentida não apenas na estrutura neural, mas também em seus efeitos funcionais, nas cognições formadas a partir do evento traumático, nas impressões afetivas, nos comportamentos e nas reações fisiológicas” (Knapp & Caminha, 2003).

A vivência traumática pode gerar alterações das crenças e dos esquemas pré-existentes dos indivíduos. Uma crença positiva, na capacidade do indivíduo em se defender, pode ser substituída por uma idéia de extrema vulnerabilidade após o evento estressor, bem como os esquemas quando negativos e disfuncionais são reforçados pelos eventos traumáticos (Schreiner, 2005). Assim, a formação dos esquemas após a situação traumática seria a resultante da capacidade do sujeito de processar a informação adequadamente, o que está diretamente relacionada à história de vida do sujeito.

1.4 Memórias Traumáticas e UTI

  

As memórias traumáticas são fenômenos heterogêneos, complexos e são armazenadas de formas distintas no cérebro diferentemente das memórias normais ((Van der Kolk, 1996 apud (Samuelson, Lundberg, & Fridlund, 2007b)). A ameaça a integridade física e psíquica é relacionada à formação de experiências traumáticas e conseqüentes memórias. Situações experimentadas, testemunhadas ou confrontadas pelo indivíduo, na qual houve ameaça à própria vida ou a vida de outro a ele afetivamente ligado, podem promover experiências traumáticas. Estas situações são essencialmente violentas, como acidentes naturais (enchentes, incêndios e soterramentos), acidentes automobilísticos, assaltos, seqüestros, estupros, entre outros. Dentre essas situações traumáticas, a experiência de estar gravemente enfermo e ter passado por internação em UTI, é considerada uma situação potencialmente traumática por ser ameaçadora a vida (Samuelson, Lundberg, & Fridlund, 2006).

Os fatores ambientais da UTI também contribuem para a construção do trauma, sabe-se que situações estressantes podem alterar a integridade física, psicológica e emocional dos pacientes, como: ausência de referência externa, intensa estimulação sonora, iluminação artificial constante, movimentação contínua das equipes e a restrição do campo visual fazendo com que os pacientes passem por uma experiência de privação sensorial, o que pode resultar em memórias dos pesadelos ou delirium (Dalgalarrondo, 2008; Almeida, 2006; Samuelson, Lundberg, & Fridlund, 2008; Jones et al., 2007; Zimmermann et al., 2006).

Alguns pacientes que estão em fase de recuperação da doença crítica estão susceptíveis as recordações desagradáveis do período de permanência na UTI (Capuzzo et al., 2001; Backman et al., 2001; van de Leur et al., 2004; Samuelson et al., 2006). Dentre as memórias de recordação da UTI estão às memórias de eventos estressantes, tais como: tubo endotraqueal, luzes, vozes, equipe, procedimentos, dor, barulho, pesadelos e alucinações. Em um estudo de revisão de 26 artigos realizado por (Stein-Parbury & McKinley, 2000), relataram que entre 30% a 100% dos pacientes poderiam recordar parte ou todo o período de permanência na UTI. Em outros estudos os pesquisadores encontraram uma taxa de 30% a 85% das recordações estressantes de UTI (Hupcey et al., 2000; Jones et al., 2001; Capuzzo et al., 2005; Schelling et al., 2003; Adamson et al., 2004; Larson, Weaver, & Hopkins, 2007; Corrigan et al., 2007; Samuelson, Lundberg, & Fridlund, 2007a; Roberts, Rickard, Rajbhandari, & Reynolds, 2007; Karlsson & Forsberg, 2008; Samuelson et al., 2008). As memórias de pesadelos e de delirium dos pacientes provenientes de UTI estão vinculadas ao Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) (Jones et al., 2001; Capuzzo et al., 2005).

Por outro lado, alguns pacientes não têm nenhuma recordação do período de internação na UTI e essa prevalência varia de 23% a 65% (Jones et al., 2007; Capuzzo et al., 2001; Granja et al., 2005); (Ballard et. al., 2006; Haljamea, 1989ª e Granber et. al., 1998) apud  (Larson et al., 2007). A falta de recordação do período de internação em UTI esta relacionada à depressão, ansiedade, irritabilidade e isolamento social. Um estudo realizado por Backman et al. (2001), verificou a diminuição da ansiedade através da leitura de um diário, onde a equipe e familiares relataram tudo que estava acontecendo com o paciente durante o processo de internação na UTI.

Á fim de melhor compreender as memórias de UTI, Jones et. al., (2000) desenvolveram e validaram um instrumento o ICU Memory Tool (Intensive Care Unit Memory Tool) com o objetivo de detectar as memórias da UTI. Os autores classificaram as memórias de UTI em 3 grupos: memória real, memória de sentimento e memória ilusória.

As memórias reais são as de eventos concretos, efetivos da UTI, tais como: família, alarmes, vozes, luzes, rostos, tubo de respiração, aspiração, escuridão, relógio e sonda no nariz. Na maioria das vezes essas memórias são lembradas como incômodas, invasivas, sem comunicação por parte da equipe, falta de privacidade e muito barulho, causando sentimento de impotência (Russell, 1999 apud Roberts et. al., 2007). O índice de prevalência das recordações indesejadas da aspiração endotraqueal varia entre 44% a 60% ((Turner et., al., 1990, Rose et. al., 1999 apud (van de Leur, Zwaveling, Loef, & van der Schans, 2003). E em outro estudo 90% recordaram da ventilação mecânica como uma experiência desagradável (Larson et al., 2007).

Memórias de sentimento são aquelas relacionas ao sentimento do paciente durante a internação: o estado do paciente, sentir-se confuso, sentir-se triste, sentir-se ansioso / assustado, sensação de pânico e sentir dor. Nos últimos estudos realizados, o índice de recordação da dor variou entre 38,7% a 92% (Schelling et al., 2003; van de Leur et al., 2004; Boyle et al., 2004; Granja et al., 2005; Larson et al., 2007).

Referente às memórias ilusórias, estão relacionadas aos processos psíquicos. Atualmente o desenvolvimento de delirium em pacientes de UTI está bem documentado. (Marshall & Soucy 2003, Ely et. al., 2004, Roberts 2004 apud Roberts et. al., 2007). Delirium pode resultar em amnésia durante o período de confusão, privação do sono e o estado confusional agravado (Almeida, 2006); (Jones et. al., 2001). No entanto, oscilações do sono com interrupções constante da equipe são freqüentes na UTI, e são importantes para a formação das memórias episódicas. Memórias ilusórias ou delirantes são aquelas relacionadas a alucinações, pesadelos que são vivenciados pelos pacientes como vívidos e muito reais, tais como: sonhos ou até mesmo uma sensação que alguém estava tentando matá-lo (Ely et al., 2003).

Em um estudo realizado por Jones et. al. (2001) os pacientes que apresentaram sintomas relacionados com o TEPT foram aqueles que não tiveram recordações reais da UTI, no entanto, desenvolveram memórias ilusórias delirantes da UTI. Estudos indicam uma taxa de 46% a 75% de pacientes que desenvolveram memórias ilusórias durante o período de internação (Jones et al., 2001; Capuzzo et al., 2004; Roberts, Rickard, Rajbhandari, & Reynolds, 2006; Granja et al., 2005). O desenvolvimento do TEPT tem sido relacionado com o número de pacientes que recordam memórias ilusórias da sua experiência na UTI. A incidência de TEPT na UTI é de 15% a 38% dos casos (Boer et al., 2007). Os pacientes têm sintomas associados da memória auditiva, flashbacks onde revivem a dor, ataques de pânico, ansiedade, dificuldade de concentração, distúrbios do sono e pesadelos (Caiuby et al., 2008).

As memórias ilusórias também podem ser revividas por pacientes após alta da UTI como memórias traumáticas, onde os pacientes não conseguem manter o controle sobre essas memórias, não tendo domínio da situação e apresentando sentimento de impotência. Alguns pacientes relataram que os pesadelos são constantes, principalmente tendo sonhos de teor traumático, sofrendo despertares abruptos acompanhados de sensações de pânico e desespero, essas vivencias levam os pacientes a uma má qualidade de vida, pois vivem a maior parte do tempo aterrorizados (Corrigan et al., 2007). Em outro estudo os pacientes internados em UTI tiveram vários sonhos durante a ventilação mecânica, tanto sonhos ruins quanto bons. Os sonhos eram comuns entre os pacientes, de estar em uma estrada, nos aeroportos e em túneis, envolvendo sempre sentimentos de ser capturado, estar doentes ou presos em um buraco negro, sonharam também com equipe de saúde. Alguns pacientes descreveram que após o sofrimento da estadia na UTI eles procuram mudar seus hábitos de vida, começaram a experimentar uma mudança na percepção de si próprio. Descreveram sentimentos de estarem mais sensíveis e emocionalmente mais conscientes, esses pacientes estavam tentando obter o controle de suas vidas novamente, eles tinham dificuldades em relaxar, de concentrar de separar sonhos da realidade (Karlsson et al., 2008).

 

 Considerações finais                        

 De acordo com o presente estudo, foi possível detectar que a maioria dos pacientes que passaram por uma UTI descrevem essa experiência como estressante. As memórias evocadas por esses pacientes são únicas, independente de conseguir lembrar ou não do período de internação na UTI, essa experiência muda não só a rotina desses pacientes como a vida deles.

Os estudos mostram que as memórias ilusórias têm uma prevalência em torno de 46% a 75% dos pacientes durante internação em UTI e as descrevem na íntegra. Estas são consideradas fatores de risco para o desenvolvimento do trauma e de quadros emocionais graves como o TEPT (Samuelson et al., 2006; Samuelson et al., 2007b; Corrigan et al., 2007). A incidência de TEPT na UTI é de 15% a 38% dos casos (Boer et al., 2007). Embora tenha um campo vasto sobre os estudos relacionados à memória e ao TEPT, não se sabe ao certo porque algumas pessoas desenvolvem o trauma e outras não. (Mello et al., 2006).

Portanto, pesquisas relacionadas à representação simbólica das memórias traumáticas dos pacientes de UTI podem ser desenvolvidas a fim de estudar os processos psíquicos envolvidos no processo de formação da memória traumática de UTI, o que, por sua vez, pode contribuir para a compreensão das repercussões emocionais e seleção apropriada de técnicas psicoterápicas.

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