TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
Qual a diferença entre a agitação natural das crianças e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade?
Crianças que acabaram de passar por situações de estresse emocional ou conflitos familiares podem apresentar sintomas de desatenção e hiperatividade. Nesses casos, em geral as manifestações são passageiras, podendo ser consideradas normais.
O que os diferencia do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é a persistência dos sintomas.
Deste modo, deve-se ficar atento e verificar se a falta de atenção, hiperatividade e impulsividade permanece por mais de cinco ou seis meses. Isso pode ser um sinal de que os sintomas são provocados não por questões pontuais, mas sim por distúrbios mais profundos.
TDAH – O que é?
É uma patologia que se caracteriza pela existência de três sintomas: hiperatividade (movimento contínuo e superior ao esperado para a idade da criança), falta de atenção e impulsividade. É um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. É hoje, uma das causas mais frequentes do fracasso escolar e de problemas sociais na infância. É uma patologia crônica, tendo como principal etiologia a genética (75%), que pode ser diagnosticada e tratada.
O TDAH – é comum?
A incidência do TDAH é comum em crianças e adolescentes encaminhados para avaliação neuropsicológica. Acomete cerca de 5% da população infanto-juvenil, de 3 a 16 anos, sendo 3 vezes mais frequente nos homens.
TDAH – Quais são as causas?
Existem inúmeros estudos no mundo – inclusive no Brasil – demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que nos mostra que o transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade, etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos.
Pesquisas científicas mostram que portadores de TDAH têm alterações no lobo frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento.
O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios).
TDAH – Sintomas?
Desatenção
- Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras;
- Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
- Com frequência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra;
- Com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções);
- Com frequência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
-
Com frequência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);
-
Com frequência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais);
-
É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa;
-
Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias.
Hiperatividade
- Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;
- Frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
- Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação);
- Com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;
-
Está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor“;
- Frequentemente fala em demasia.
Impulsividade
- Frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
- Com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez
- Frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em conversas ou brincadeiras).
TDAH – Diagnóstico?
De acordo com a nomenclatura vigente desde 1994, do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Fourth Edition (DSM-IV), a criança deve ter apresentado 6 ou mais sintomas a pelo menos 6 meses, esses sintomas devem ocorrer em um grau que represente inadequação ao nível de desenvolvimento que produzem comprometimento, alguns desses sintomas devem ter surgido antes dos 7 anos, entretanto muitos indivíduos são diagnosticados após essa faixa etária quando os danos educacionais e sociais acabam se tornando mais expressivos. Alguns prejuízos relacionados aos sintomas deverão estar presentes em mais de um ambiente (casa, escola), e devem ter evidências claras de interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional apropriado em termos evolutivos.
TDAH – Como pode ser tratado?
É fundamental que os pais adquiram conhecimento sobre TDAH e compreendam as dificuldades apresentadas pela presença do transtorno, e procurem desenvolver estratégias para o sucesso dos seus filhos. Não se deve esquecer que os pais desempenham papel fundamental durante o tratamento. As crianças, adolescentes e adultos hiperativos necessitarão de muito apoio, compreensão, carinho, e sobretudo muita paciência para que pouco a pouco consigam desenvolver sua rotina com normalidade.
O tratamento é uma parceria entre neuropediatra, neurologista, psiquiatra, neuropsicólogo, psicólogo, psicopedagogo, pais ou responsáveis e o paciente. Psicoterapia para o paciente e a família pode ajudar todos a entender e ter controle sobre sentimentos estressantes relacionados ao TDAH. Psicoterapia ajudará o paciente a adquirir hábitos e estratégias cognitivas para que seu desenvolvimento social, familiar, escolar e profissional esteja à altura de suas capacidades.
O tratamento tem como objetivo:
- Melhorar ou anular os sintomas do transtorno;
- Melhorar a aprendizagem, linguagem, escrita, relação social e familiar;
- Tratamento farmacológico juntamente com psicoterapia (imprescindível em 7 de cada 10 crianças).
Dicas para os pais lidarem com filhos com TDAH:
Relacionamentos interpessoais
Frequentemente crianças com TDAH apresentam dificuldades nas relações interpessoais. É papel dos pais ou responsáveis atuar frequentemente, minimizando estes problemas através das seguintes condutas:
- Contribua ajudando seu filho a desenvolver amizades, convidando colegas da escola para a sua casa e/ou passeios no parque e cinema;
- Mantenha-se próximo e atento nos momentos de laser para facilitar a interação com os amigos, procurando observar contextos em que ambos não se comportem de forma adequada, seja atuando de modo egoísta, empurrando ou não dividindo os brinquedos;
- Peça para que seu filho pontue situações em que ele tenha percebido que poderia ter ajudado ou agradado os amigos;
- Procure antecipar a situações que possam ocorrer durante jantares em restaurante, festas e viagens, especialmente para situações monótonas. Seu filho deve ser preparado para momentos menos motivadores, e pode ser orientado para que exerça atividades nestes períodos, onde contribui para passar o tempo de modo mais agradável;
-
Contribua para o controle emocional do seu filho, atuando de tal forma a se espelhar como modelo. Evite situações que possam sugerir um descontrole ou agressividade excessiva.
Seu filho e a instituição de ensino
A criança pode apresentar problemas interpessoais com colegas e professores, bem como de aprendizagem, seja pelos sintomas – hiperatividade, impulsividade e déficit de atenção – que podem ser determinantes no prejuízo ao aprendizado, seja pela presença de comorbidades que muitas vezes apresentam como transtornos de aprendizagem, dislexia, discalculia ou disgrafia, transtornos de conduta, transtornos desafiador opositivo, dentre outros. O bom relacionamento da família para com a instituição de ensino é um fator primordial para o sucesso do paciente.
- Procure estar sempre atento às reclamações da escola e evite levar para o lado pessoal;
- Faça do professor e demais responsáveis pelo ensino seus aliados nos cuidados para com seu filho. Procure ser o mais “transparente” possível já no início, em uma nova escola ou na mudança de ano escolar, explicando as dificuldades enfrentadas pela criança e peça ajuda, trazendo esses profissionais para sua causa;
- Ressalte os conhecimentos adquiridos pelo estudo. Mostrando interesse pelo aprendizado, pela leitura. Lembre-se de que os pais são os “espelhos” da criança;
- Procure minimizar suas expectativas para a criança com TDAH. Valorize cada passo alcançado em relação a ela mesma;
o estudo e a realização das atividades escolares em casa devem ser respeitados, de tal forma que devem ser obedecidos:
- Orientar seu filho para não esquecer de anotar as tarefas escolares no caderno. Peça ajuda para o professor supervisionar o seu filho para que tome nota das tarefas ou peça ajuda de um colega que possa auxiliar na conferência das tarefas, dias de prova e trabalhos escolares;
- Tentar minimizar distrotores, tais como, presença de irmãos, primos, amigos ou o barulho da televisão e/ou música quando tiver que executar tarefa.
- Utilizar de tabelas de rotina para inserir estrategias de planejamento e organização dos deveres a cumprir;
- Dividir as atividades mais extensas em períodos mais curtos, de forma que seu filho possa ter alguns intervalos livres;
- Ajude seu filho na orientação da atividade, mas de modo que faça com que ganhe independência na mesma atividade no futuro. Passando aos poucos somente a acompanhar, estando próximo, auxiliando nas duvidas;
O professor e o aluno com TDAH
O professor deverá adquirir conhecimento sobre TDAH e compreender que as dificuldades apresentadas pela criança não devem ser consideradas como pessoais, a ele ou a classe. O conhecimento ajuda a criar estratégias para ajudar não só o aluno com TDAH como orientar os demais alunos a compreender e aceitar as diferenças do amigo.
Crianças com TDAH apresentam baixa autoestima e deve ser evitado que elas sejam expostas a situações de constrangimento. O professor deve motivar, tendo em mente que o resultado estará diretamente ligado à diferença entre a quantidade de reforço positivo em relação a uma pressão em excesso.
Sugestões aos professores:
- Em situações onde o aluno não estiver prestando atenção, evite questioná-lo neste momento. Procure obter sua atenção de modo indireto, com um olhar ou toque, e assim que perceber que obteve sua atenção, efetue a pergunta, para que o mesmo possa ter a chance de acertar e sentir-se motivado;
- Solicite ajuda aos alunos com TDAH, permitindo assim, motivá-lo, de forma intermitente, exemplo: apagar a lousa, ajudar na distribuição de materiais para a classe;
- Coloque o aluno sentado sempre a frente, próximo do professor, de preferência longe de janelas ou portas e separados de outros alunos com TDAH;
- Procure não criticar na presença de outras crianças, evitando assim uma indisposição do aluno para com o professor;
- Procure ressaltar as regras e anotar na lousa o plano de aula, bem como as tarefas e datas de provas;
- Considere a possibilidade de mudanças na forma de avaliação destas crianças, possibilitando provas orais ou com maior tempo para a execução ou menor número de questões, em relação ao restante da classe;
- Procure tornar o ensino prazeroso, estimulando a participação dos alunos;
- Demonstre percepção dos resultados e progressos alcançados pelo aluno;
- Ajude os pais com uma maior comunicação, monitorando os progressos ou dificuldades, além da participação no controle em anotar as atividades e datas de provas;
-
Criar momentos de descontração para minimizar o stress e ajudar na socialização com colegas de classe;
- Considerar o problema de forma serena e objetiva;
-
É importante compreender que o aluno com TDAH não consegue controlar seus impulsos e que esta tão assustado quanto as demais pessoas que convive com ele.
As sugestões supra citadas são algumas dentre varias que podem ser utilizadas tanto no âmbito familiar quanto educacional. O terapeuta tem a função de ajudar a criança a lidar com todos os aspectos apresentados no TDAH, bem como orientar a família, escola a ajudar e compreender a dificuldades da criança.
Referências Bibliográficas
- Association, A. P. (2000a). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV-TR: American Psychiatric Publishing, Inc.
- Association, A. P. (2000b). diagnostic criteria from dsM-iV-tr: Amer Psychiatric Pub Incorporated.
- Association, A. P. (2002). DSM-IV-TR: Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais. texto revisto (JN Almeida, Tradutora). Lisboa: Climepsi Editores.(Original publicado em 2000).
- Association, A. P. (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders: (DSM-5™)
- (Fifth Edition ed.).
- Association, A. P., & DSM-IV., A. P. A. T. F. o. (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders: DSM-IV: Amer Psychiatric Pub Inc.
- Barkley, R. A. (2008). Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Manual para diagnóstico e tratamento: Grupo A.
- Benczik, E. B. P. (2000). Transtorno de déficit de Atenção: Casa do Psicólogo.
- Bidwell, L. C., Willcutt, E. G., DeFries, J. C., & Pennington, B. F. (2007). Testing for Neuropsychological Endophenotypes in Siblings Discordant for Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder. Biological psychiatry, 62(9), 991-998.
- Brito, G. (2006). EACI-P-Escala de avaliação do comportamento infantil para o professor, manual. São Paulo: Vetor.
- Carreiro, L. R. R., Jorge, M., Tebar, M. R., Moraes, P. F. d., Araujo, R. R. d., Oliveira, T. A. E. R. d., & Panhoni, V. A. C. S. (2008). Importância da interdisciplinaridade para avaliação e acompanhamento do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Psicologia: teoria e prática, 10(2), 61-67.
- Charchat-Fichman, H., & Oliveira, R. M. (2009). Performance of 119 Brazilian children on Stroop paradigm: Victoria version. Arquivos De Neuro-Psiquiatria, 67(2B), 445-449.
- Gomes, M., Palmini, A., Barbirato, F., Rohde, L. A., & Mattos, P. (2007). Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade no Brasil. J bras psiquiatr, 56(2), 94-101.
- Jacobson, L. A., Ryan, M., Martin, R. B., Ewen, J., Mostofsky, S. H., Denckla, M. B., & Mahone, E. M. (2011). Working memory influences processing speed and reading fluency in ADHD. Child Neuropsychology, 17(3), 209-224. doi: 10.1080/09297049.2010.532204
- Llorente, A. M., Voigt, R. G., Williams, J., Frailey, J. K., Satz, P., & D’Elia, L. F. (2009). Children’s Color Trails Test 1 & 2: Test–Retest Reliability and Factorial Validity. The Clinical Neuropsychologist, 23(4), 645-660.
- Mulder, H., Pitchford, N. J., & Marlow, N. (2011). Inattentive behaviour is associated with poor working memory and slow processing speed in very pre-term children in middle childhood. British Journal of Educational Psychology, 81(1), 147-160. doi: 10.1348/000709910×505527
- Rohde, L. A., Barbosa, G., Tramontina, S., & Polanczyk, G. (2000). Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22, 07-11.
- Rohde, L. A., & Halpern, R. (2004). Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: atualização. Jornal de Pediatria, 80(2), 61-70.
- Strauss, E. (2006). A compendium of neuropsychological tests: Administration, norms, and commentary: Oxford University Press.
- Vasconcelos, M. M., Werner Jr, J., Malheiros, A. F. d. A., Lima, D. F. N., Santos, Í. S. O., & Barbosa, J. B. (2003). Attention deficit/hyperactivity disorder prevalence in an inner city elementary school. Arquivos De Neuro-Psiquiatria, 61(1), 67-7